Exercício. Curso: Serial Killer: A Construção do Personagem
- Eddy Ramon
- 21 de abr. de 2023
- 4 min de leitura
O exercício se tratava de criar uma cena fictícia sobre um serial killer real.
(escrito em formato literário).
1986 Pittsburg, Kansas, EUA. 11:47 PM
Algo toma forma nos rabiscos, uma corda passando pelos braços de uma mulher, o sadomasoquismo parece sempre presente nos esboços de Dennis. Faz parte dos seus desejos mais profundos, dos quais já sente saudade em realizá-los. O prazer o toma, um sorriso, a excitação e um som de vidro quebrando o coloca rapidamente em estado de alerta.
Um franzir da testa é seguido pelos movimentos de apagar a luz e andar devagar por sua casa. Passa pela sala escura, quieta e calma, uma luz de fora invade o ambiente mostrando que não há sinais de alguém no cômodo. Com um olhar de canto de olho encontra a porta da cozinha aberta e um golpe em sua cabeça vem de cima para baixo o fazendo tropeçar e sentir a parede ao seu lado.
Uma pressão incrível seguido de dor e atordoamento. Ele não desmaia, cambaleia e sente outra pancada no rosto, que o faz voltar para a parede.
Respira e abre os olhos, dor e tontura, escuro e vultos e ao fundo a voz rouca e desesperada de um homem que não é compreendida no primeiro momento. Mas se torna clara quando quase toma a terceira pancada.
- Não olhe pra mim!
O homem joga um pano que encontra em um dos balcões da cozinha.
- Bota no rosto, não olha pra mim. Amarre isso, seu filho da puta.
Dennis segue a ordem, tenta voltar a sanidade o mais rápido possível.
- Calma cara, não precisa me machucar.
- Cala a boca, seu desgracado.
Sente um empurrão nas costas e cai de joelhos no que julga ser o canto entre a mesa e a pia da cozinha.
- Você me viu? Fala, me viu?
Mesmo no escuro e vendado sente que tem uma arma apontada para seu rosto.
- Não, não vi. Estava de costas, não vi. O que você quer?
Sombras dos pés do no rapaz aparecem como vultos pelo pano. A tensão sentida no ambiente é quebrada pelo silêncio das duas partes.
Dennis ouve o resmungo do homem como se estivesse em dúvida do que fazer.
- Fique tranquilo, cara, não vou falar nada. Eu tenho cordas ali no armário. Me amarre, pegue o que quiser e vá embora.
- Cala a boca, senão vou ter que te matar, cacete!
- Me tranca no banheiro…
Denis sente uma pancada no estômago, fica impossível puxar o ar para respirar. Uma, duas vezes e o ar vem.
- Não tenta reagir, filho da puta, onde é o banheiro? Levanta, vai.
Denis se apoia na mesa ao lado, tenta ajeitar o pano na sua cabeça devagar para não apanhar novamente enquanto anda na direção do banheiro. Sente que qualquer movimento rápido pode fazer o homem apertar o gatilho.
- Entra calado e me dá a chave, vai - empurrando Dennis.
Dennis pega a chave e o homem comete o segundo erro daquela noite. Além de entrar para assaltar uma casa de um serial killer, agora ele tentou pegar a chave da mão de Dennis com a mesma mão que segura a arma.
A porta fecha no braço do homem enquanto Dennis agarra o braço por dentro do banheiro.
- Meu braço, filho da puta!
A arma cai e a porta continua sendo jogada contra o homem e seu braço esticado até que esse desmaiasse de dor.
Dennis descansa por alguns segundos ao ver aquele corpo imovel no chão. Procura a arma que ouvira cair sem disparar. Faz tudo isso em silêncio para ouvir se algum vizinho iria tocar sua campainha, não tinha ciência do barulho que fizera, precisava ser precavido.
Olha pela primeira vez para o rosto do rapaz, já observa que não é um homem da sua idade e sim um jovem. O julga como um assaltante de merda, que não sabia o que estava fazendo. Logo sente seu rosto voltar a doer com a adrenalina baixando.
Pela primeira vez se viu do lado contrário da situação. O que fazer? Chamar a polícia? BTK era um monstro, mas a sociedade não conhecia ainda Dennis como um psicopata, era somente um um bom cidadão que foi atacado dentro de casa por um assaltante e conseguiu reagir.
Mas será que seria fichado? A ideia da polícia dentro de casa fez ele largar o telefone e olhar novamente para o corpo caído no chão do banheiro.
—
“Voltou a se mexer” - Foi o que ele pensou quando viu o rapaz se dar conta que estava amarrado no chão frio da cozinha. Amordaçado e com um pano na cabeça tentava se desvencilhar de tudo aquilo sem a mínima chance.
- Entrou na casa errada, não posso deixar você sair.
O rapaz entra em desespero e tenta freneticamente se debater.
- Quanto mais você se mexe mais eu aperto. Isso vai acabar logo.
Dennis, que nessa hora mais tinha o aspecto de BTK, coloca um saco de plástico na cabeça do rapaz e senta em uma cadeira de frente para assistir o sufocamento. Assistira como um espectador de cinema, mas não se via muita satisfação no seu rosto, talvez uma fagulha, mas não a satisfação que tinha em suas vítimas, talvez porque não era seu modus operandi, talvez porque não tenha tido a caçada ou talvez por estar pensativo de como poderia ser descoberto facilmente de forma tão ingênua. Ainda teria de levar o corpo a algum lugar e provavelmente jogar no rio. Da mesma forma que parava calmamente para se decidir o que faria com o corpo, assistia os últimos minutos do rapaz que não sabia onde estava entrando quando abriu aquela porta.
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